Esses dias, em uma reunião de trabalho, me perguntaram qual era meu “hobby”. Fiquei alguns bons segundos pensando na resposta. Aquilo me incomodou. A surpresa em não conseguir responder de prontidão sobre o que me fazia sentir bem mexeu comigo.
Logo eu, amante da vida, percebi que fazia tempo que não praticava qualquer atividade com o objetivo de proporcionar prazer a mim mesma. Imediatamente, me veio à tona a percepção da rotina casa-trabalho-família que vivo há três anos e que toma conta de forma avassaladora do meu tempo.
E olha que “coincidência”! Também há três anos, tive meu filho.
A maternidade nos leva, de um dia para o outro, para um lugar desconhecido, no qual você nunca esteve e, naquele momento, muito pouco preparada para ali estar. Não, não é um lugar ruim! Pelo contrário, é um lugar de evolução emocional, é o espaço do amor soberano, aquele capaz de sustentar as mudanças, o cansaço, as diferenças, um novo corpo e até mesmo o abandono de si mesma por algum tempo.
No início, incomoda. Aliás, mudanças incomodam.
Incomoda querer sair para jantar com os amigos, mas saber que a melhor escolha é ficar em casa e recuperar o sono para estar bem no dia seguinte e cuidar de quem precisa de você.
É como se, em alguma medida, uma vida se apagasse para outra iniciar.
Incomoda querer ir à academia ou praticar algum esporte, e não ter tempo para encaixá-lo na rotina louca. Incomoda querer viajar e não poder, porque não é mais só pegar a mala e sair por aí, aliás, você passa a entender que a sua mala é irrelevante perto dos milhares de itens que você “precisa” levar para o seu filho.
As mudanças que a maternidade traz já não se tornam escolhas, se tornam parte do seu “id”, que na psicanálise é o que diz respeito às pulsões primitivas, o nosso famoso instinto.
Talvez, não dê mais para meditar às 6h30, malhar às 7h, nadar às 8h, trabalhar, fazer aula de violão no almoço, participar de um curso, ir ao happy hour com as amigas, ouvir um podcast e deitar ao final do expediente. Mas posso te contar? Tá tudo bem!
Entre uma troca de fralda e outra, dance sua música preferida com seu nenê no colo, no intervalo das mamadas, acione sua rede de apoio e se puder, na pausa, faça uma caminhada, se movimente, sente no café da esquina e leia duas páginas daquele livro que ainda não conseguiu começar.
Poucas frases me fazem tanto sentido depois que me tornei mãe quanto: “o feito é melhor que o perfeito”. Se os planejamentos estão difíceis de colocar no papel à risca, faça o que estiver ao seu alcance e não se martirize por ainda não ter sido capaz de inventar uma máquina de construir horas e minutos. Nunca teremos tempo o suficiente. Se já não tínhamos antes, imagine agora.
Crie um bom sistema de revezamentos com o pai, marque uma massagem relaxante ou vá ao salão, se preferir. Leve seu filho com você para sua viagem dos sonhos, mesmo com alguns perrengues a mais. Os momentos com você mesma são essenciais, mas encaixar a companhia deles de forma leve também é. A pausa que a vida dá pode ser compartilhada e vivida fazendo o que gosta junto deles. Te garanto que será uma experiência incrível.
E por aí? Qual lugar no mundo já não lhe cabe mais e precisou ser readaptado? Se reorganize, priorize escolhas, dê um jeito, mas não se acostume com a ideia de se desconectar de você. Como tudo na vida, o modo como você encara uma situação é o que guia sua trajetória.
Parafraseando Cris Guerra: “Entre a mãe dedicada e a que faz o possível, se provoca um sorriso, descobre que não é nada menos que a melhor que você pode ser”.
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Autora: Teresa Mota Batista, Psicóloga formada pela PUC-Minas
Referências:
Guerra, Cris, Escrever uma árvore, plantar um livro – crônicas sobre a maternidade. 1ª ed. Divinópolis: Gulliver Editora, 2019;